Só com títulos se combate a Santa Aliança |
O momento atual do Benfica justifica uma paragem para refletir no que tem sido o caminho percorrido desde a conquista do Tetra Campeonato. No desporto em geral e no futebol em particular é muito ténue a linha que separa o sucesso do fracasso. Pela fragilidade dessa linha e pela existência de todo um conjunto de variáveis mais ou menos incontroláveis, torna-se arriscado, e por muitas vezes injusto, avaliar os resultados apenas como consequência das opções tomadas.
Tal não invalida, bem pelo contrário, que não devamos procurar analisar todas as opções tomadas e as suas consequências no atingir do objetivo proposto. Por isso numa série de artigos vou abordar um conjunto de áreas, tentando perceber as ideias por trás das decisões tomadas e procurando encontrar novos caminhos e soluções:
A Santa aliança
A ideia de uma aliança entre o Porto e o Sporting como forma de combater a supremacia do Benfica não é uma inovação deste século. Já no mandato de José Roquete esse entendimento tácito era colocado em prática, como revela o antigo presidente do Sporting, João Rocha, ao jornal Record:
- “Havia um projecto com o FC Porto que era muito prejudicial para o Sporting. Era mesmo inqualificável. Insurgi-me num Conselho Leonino e numa assembleia geral. Era um projecto gravíssimo que só podia sair da cabeça de um indivíduo sem responsabilidades. José Roquette dizia que era um projecto válido, porque era a única maneira de Sporting e FC Porto estarem sempre representados na Liga dos Campeões.”.
- “Foi falado no Conselho Leonino e eu disse ao líder da AG para mandar calar sobre essa informação, que foi longe demais. Disse-lhe ainda que o resumo do acordo com o FC Porto devia ser gravado de tão grave que era, porque talvez fosse necessário que essa gravação viesse a ser pública na defesa dos interesses do Sporting e dos seus sócios.”.
Com este histórico e estando o Benfica num ciclo de vitórias impressionante não surpreende ninguém esta, agora assumida, aproximação entre ambos os clubes. Batizada de Santa Aliança, mais não é do que o reconhecimento da grandeza do Benfica e da incapacidade de cada um desses clubes por si só conseguir atingir as desejadas vitórias.
O namoro foi assumido num encontro no Hotel Altis em inícios de maio deste ano numa tentativa desesperada de travar a caminhada do Benfica rumo ao Tetracampeonato. O encontro “secreto” foi precedido de convocatória também ela “secreta” à comunicação social para que todo o país, “secretamente”, tomasse conhecimento do encontro.
O encontro secreto da treta |
Dos objetivos da santa aliança - de cujo comunicado ironicamente consta algo como: “O objetivo comum de Sporting e FC Porto é reformular o futebol português e promover a transparência e a verdade desportiva" - destacam-se os seguintes:
- Provocar instabilidade interna no Benfica;
- Causar danos à reputação do Benfica em termos nacionais e internacionais;
- Enfraquecer o Benfica em termos de patrocinadores;
- Promover uma narrativa que desvalorize o mérito das conquistas do Benfica associando-as a jogos de bastidores;
- Marcar a agenda dos programas de comentário desportivo e controlar o desenrolar dos mesmos através da superioridade numérica;
- Repartir de forma coordenada os ataques ao Benfica e outras instituições, assim como as reações subsequentes a esses mesmos ataques;
- Utilizar os órgãos de comunicação social e jornalistas “amigos” para fazer eco e prolongar no tempo os ataques lançados;
- Sistematizar as ações de coação sobre a arbitragem, a justiça, a disciplina, os dirigentes desportivos e inclusive sobre os outros clubes.
Todos estes objetivos têm sido postos em prática ao longo dos últimos meses fazendo com que o futebol português atinja um nível de belicismo nunca antes observado. Ambos os clubes, através dos seus diretores de comunicação e outros agentes propagadores de ruído, mantêm uma agenda mediática contínua que em nada se coaduna com o teor do comunicado conjunto que emitiram.
O que eu penso?
Infelizmente penso que a estratégia tem dado os seus frutos, assentando num controlo dos meios de comunicação social que me parecia de todo impossível em pleno século XXI. Esse controlo resulta em parte na influência direta dos grupos de comunicação social afetos aos dois clubes, que já nem sequer têm a preocupação de disfarçar a sua parcialidade.
A outra forma de controlo, quase impossível de combater, advém do facto dos temas polémicos serem o principal mote para as audiências. Se meter o nome do Benfica pelo meio, então é a cereja no topo do bolo. Em tempo de vacas magras para a imprensa, a santa aliança tem sabido aproveitar bem este facto.
Gostaria que assim não fosse, mas a estratégia tem dado os seus frutos:
- Pressente-se a instabilidade dentro do clube. Aquela máxima de deixar os cães ladrar enquanto a caravana passa, que tão bom fruto deu, parece posta em causa.
- A imagem do Benfica vai-se degastando e esperemos que esse desgaste não se reflita nas gerações futuras.
- A pressão sobre arbitragens, justiça e disciplina tem dado os seus frutos. Em caso de dúvida os árbitros beneficiam a santa aliança, pois não querem passar o resto da semana sob os holofotes. A justiça castiga Samaris, com vários casos similares a passarem em claro. A federação apenas vem dar satisfações quando o vídeo-arbitro fez justiça no jogo do Benfica com o Portimonense e poderia continuar com muitos outros exemplos.
- Os responsáveis, quer técnicos quer dirigentes, de outros clubes têm declarações pré e pós jogo com o Benfica que não se comparam com a subserviência prestada à santa aliança. O vídeo apresentado pelo treinador adjunto do Portimonense é um bom exemplo disso.
- Com tantas acusações de manobras de bastidores, os adeptos do Benfica parecem sentir-se inibidos no que diz respeito às queixas de arbitragem, mesmo quando os roubos são descarados. Mais um fator que inclina a tomada de decisão dos árbitros para o lado da santa aliança.
- Alguns adeptos têm encarnado a narrativa de que as conquistas dos últimos anos não o foram por mérito próprio. Este sentimento tem levado muitos a desvalorizar os méritos de um grupo de trabalho que foi exemplar nas duas últimas épocas, quebrando uma química que foi a base de sustentação das muitas vitórias alcançadas.
Estas são apenas algumas das situações que saltam mais à vista, muito mais haveria por escrever.
Sem dispor de todos os dados da equação, nem pouco mais ou menos, diria que não é fácil contrariar o panorama atual. Certamente que o Benfica terá gente especializada nas áreas da comunicação e ciências sociais a analisar esta temática e a definir estratégias de curto e médio/longo prazo. Pelo menos assim o espero.
Do meu ponto de vista há três situações que me parecem fundamentais para combater o atual estado de coisas:
- Da parte do clube recolocar o foco no trabalho dentro de portas e continuar a ganhar dentro do campo. As nossas vitórias serão o melhor antídoto para todo o veneno destilado pela santa aliança. Percebendo que dentro do Benfica certamente que terão um pensamento semelhante; ainda hoje leio que o presidente declarou: “Só os bons resultados desportivos permitirão consolidar as nossas opções”; torna-se para mim quase incompreensível o desinvestimento desenfreado que se verificou esta época.
- Da parte dos sócios/adeptos assumir o orgulho no clube, reconhecer o mérito das nossas vitórias; então os últimos dois anos foram mesmo épicos; reconhecer os méritos dum grupo de trabalho que deixou tudo em campo. Andar de cabeça bem levantada com o orgulho de sermos Tetracampeões mesmo que a época esteja a correr mal; uma coisa não invalida a outra. Não ter pruridos em reclamar das arbitragens, da discriminação na aplicação de castigos ou mesmo do discricionarismo das declarações dos altos dirigentes do nosso futebol. Adeptos à Benfica impõe respeito a qualquer rival.
- Da parte do grupo de trabalho perceber a importância deste momento. Pode a época não ter sido planeada da melhor forma e o plantel apresentar algumas lacunas, mas mesmo assim existe qualidade para chegar ao sucesso. É recuperar a atitude dos últimos anos e lutar connosco, por nós que bem merecemos, pela reconquista dos títulos que tanto trabalho nos deram na época passada.
Só assim poderemos fazer com que a santa aliança se esfume e o futebol português volte a ser um meio minimamente respirável.
#naomefodas mode on
- Quem se lembrou da treta do desinvestimento no contexto especial que esta época apresenta, devia era aplicar o desinvestimento na sua casa e passar a época a pão e água. Pó crl, pah!
- Não entrem na narrativa dos fdp dos dragartos. Ninguém dentro de nossa casa o deve fazer. Fechar as portas, fechar a boca, trabalhar muito e dessa forma certamente que a santa aliança entra em insolvência como o outro crl.
- Foram quatro campeonatos ganhos com muito suor, contra tudo e contra todos, sempre até ao último minuto. Fds, não entramos em campo de cabelo pintado a dez jogos do fim do campeonato. Não crl, foi sempre suadinho. Muito orgulho!
- Que tem o desdentado a dizer da impossibilidade dos atletas emprestados estarem impedidos “oficiosamente” de defrontar o clube parceiro?
- Correm uns zunzuns que na santa aliança são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros. Será?!?
#naomefodas mode off
Abraço